CAPITANIA DO ESPIRITO SANTO

A Capitania do Espírito Santo se encontra entre a Capitania da Bahia de Todos os Santos e a Capitania Real de Cabo Frio. Sua capital é a primeira vila fundada na região, a Vila do Espírito Santo.

Ao sul da capital, o litoral, onde vivem os Temininós, apresenta falésias e muitas praias entrecortadas por pontas rochosas, com presença de alguns lagos. Na medida em que se avança para o interior, o relevo bastante ondulado e irregular segue até as altas serras habitadas pelos Goitacás. Estas serras não formam a mesma muralha densa de Paranapiacaba. Os rios da região sulcam os vales abrindo caminho pelas altas montanhas, sendo o principal deles o rio Itapemirim.

Ao norte da Vila do Espírito Santo, as terras litorâneas são mais vastas, e o caminho para o interior é menos íngreme e acidentado. Subindo o rio Watu, é possível alcançar a região das minas, mas é preciso passar pelas terras dos Aimorés, expulsos do litoral após sangrentas batalhas, há mais de um século, com a ajuda dos Tupiniquins vindos do norte, que buscavam ocupar a região. As altas árvores da região fazem lembrar aquelas da Grande Floresta. As praias são bastante extensas, prosseguindo em uma constante faixa de areia por muitas léguas, sendo interrompida apenas pela foz dos rios.

Os antigos donatários, os fidalgos da Família Coutinho, decidiram vender a capitania em 1674. Dom António Luís Coutinho, quando herdou as terras, era Almotacé-Mor do Reino, título de grande prestígio, e achou por bem passar adiante suas terras para alguém que de fato se dedicaria a revigorá-la, um herói de guerra lusitano chamado Francisco Gil de Araújo, que a arrendou por 40 mil cruzados. Posteriormente, Coutinho, com todo o seu prestígio junto ao Rei, viria a ser o antecessor do Governador Lencastre como Governador-Geral da Província de Santa Cruz. Atualmente é o Vice-Rei das Índias. O novo dono reergueu a capitania e restaurou os combalidos fortes para proteger a entrada da baía onde fica a Vila do Espírito Santo, antigamente alvo fácil dos piratas. Após sua morte, em 1687, seu filho não se interessou em vir para Santa Cruz. Em seu lugar, enviou para governá-la o Capitão-Mor João Velasco Molina, que busca povoar os sertões da capitania.

Os colonos da capitania sempre tiveram dificuldades de se estabelecer devido à resistência de Goitacás e Aimorés, o que a tornou, por muitas décadas, a capitania mais isolada de todas. Com o burburinho causado pelas notícias vindas dos Campos dos Cataguás, os colonos logo se apressaram em encontrar um caminho para lá. Afinal, o Capitão-Donatário Francisco Gil havia tentado exaustivamente, mas sem sucesso, encontrar pedras ou metais preciosos nas serras da capitania.

Mas uma ordem do Governo-Geral Lencastre serviu como um balde de água mais fria do que aquela encontrada nas cachoeiras da Serra do Caparaó: por razões de segurança, nenhuma estrada poderá ser construída entre os Campos dos Cataguás e a capitania.

Vila do Espírito Santo

Em 1535, a Vila do Espírito Santo foi fundada às margens de uma estreita baía por seu donatário, que chegou à praia de Piratininga com 60 homens. A região era disputada por três grupos nativos quando os Lusitanos chegaram: Aimorés, Goitacás e Tupis. Como se não bastasse esse infortúnio, a região também era disputada por Neerlandeses e Francos. Assim, em 1551, o governo da capitania decidiu transferir a vila para um local mais protegido, na grande Ilha de Guanaani, então batizada de Ilha de Santo Antônio, na outra margem da baía. E assim surgiu Vila Nova do Espírito Santo, sendo a anterior conhecida como Vila Velha.

Em 1558, o frei franciscano Pedro Palácios, de origem hispânica, desembarcou na praia de Piratininga com a missão de erguer uma ermida no alto do morro. A ermida levou bem mais de um século para se tornar o imponente Convento da Penha, reinando absoluto na paisagem da baía, equilibrando-se sobre as pedras.

Nesse meio tempo, em 1592, a vila sofreu o ataque de corsários britânicos. Em 1625 e 1640, vieram os Neerlandeses. O novo donatário da capitania mandou recuperar os dois fortes que defendem a baía, postos em ruínas pelos ataques anteriores: Forte São João, na ilha; e o Forte de São Francisco Xavier de Piratininga, na Vila Velha.

Fazenda Itapemirim

Em 1539, um colono decidiu se estabelecer na foz do rio Itapemirim, onde Temiminós habitavam a estreita faixa litorânea. No entanto, o interior era tomado pelos Goitacás, de forma que ao fazendeiro só coube agradecer pelo relevo acidentado que o mantinha a salvo do interesse dos nativos. Entretanto, com as primeiras notícias de ouro no interior, algumas expedições resolveram explorar as formosas serras e seus vales abruptos, e chegaram à conclusão de que o melhor caminho a seguir seria o rio Itapemirim. Assim, a vida pacata da Fazenda Itapemirim, erguida sobre um pequeno promontório de costas para o mar e voltada para o rio, começou a mudar.

Vila de São Matheus

Em 1544, náufragos chegaram à ilha de Guriri, subiram o rio Kiri-Kerê e formaram um povoado sem nome. Mas a vida ali não era nada fácil, pois a região era dominada pelos Aimorés. Em 1558, ocorre a terrível Batalha do Kiri-Kerê. Com a derrota para os Aimorés, as forças lusitanas tiveram de recuar para a Vila do Espírito Santo. Posteriormente, o Governador-Geral enviou uma nova frota que promoveu uma matança e empurrou os Aimorés rio acima. Muitos combatentes acabaram permanecendo no povoado do Kiri-Kerê. Em 1566, Padre Anchieta reza uma missa no local e batiza o povoado de Vila de São Matheus.

Vila de Nossa Senhora da Conceição

A Vila de Nossa Senhora da Conceição foi fundada em 1554, num porto natural na barra do rio Kiri-Kerê, no início da campanha lusitana contra os Aimorés. Não sabiam os Lusitanos que naquela margem do rio vivia uma pequena aldeia pacífica, que há alguns anos havia abrigado e incorporado náufragos Castelhanos. Essa aldeia decidiu ajudá-los na campanha contra os Aimorés, que eram também seus inimigos. Seu posicionamento estratégico tornou a vila parada preferencial dos navios vindos do norte. E logo ela se tornou a maior vila no norte da capitania.

Aldeia dos Reis Magos

A Aldeia dos Reis Magos foi a primeira redução jesuítica erguida na Capitania do Espírito Santo, em 1557, junto ao rio Apiaputanga, por ordens do Governador-Geral. O lugar se revelou problemático por ser área de confronto entre Tupiniquins e Aimorés. Contra todas as expectativas, a aldeia se mantém de pé até hoje.

Reritiba

A redução jesuítica de Reritiba foi fundada em 1561 pelo mais importante missionário da Companhia de Jesus em terras lusitanas. Responsável pela Paz de Iperoig e a fundação de Piratininga, de origem hispânica, ex-Provincial da colônia, Padre Anchieta passou seus últimos dez anos entre os Temiminós, na aldeia que se encontra no alto de uma colina na foz do rio Reritiba, que forma um porto natural e é abundante em ostras.

Após a morte do jesuíta, os nativos passaram a considerar todos os pertences pessoais do padre como sagrados, principalmente seus ossos, alegando serem artefatos de grande poder. Os Jesuítas precisaram usar todo a sua habilidade diplomática para levar o corpo de Anchieta até Vila Nova do Espírito Santo, a fim de enterrá-lo no Colégio de São Tiago, o qual ele mesmo ajudara a construir.

Curiosos com a adoração dos missioneiros, os Jesuítas tentaram estudar os objetos a fim de verificar se havia alguma verdade na lenda, mas foram expulsos pelos nativos cristãos. O Provincial da colônia decretou que todos os Jesuítas deveriam respeitar a vontade dos seguidores de Anchieta, alegando que valia mais a pena conservar o ardor religioso dos Temiminós do que arriscar perdê-los em nome de investigações teológicas.

Porém, doze anos depois, por ordem do Superior Geral da Companhia, os ossos de Anchieta foram enviados à catedral da capital da província e, secretamente, seu fêmur foi encaminhado a Roma.

Vila de Santa Maria de Guaraparim

Fundada em 1585, também por Padre Anchieta, a Aldeia de Santa Maria de Guaraparim se dedicava à catequese dos Temiminós. Em 1677 foi construída a Igreja de Nossa senhora da Conceição, abrindo caminho para, dois anos depois, a aldeia ser elevada à vila. A vila está localizada ao sul da Vila do Espírito Santo, em uma pequena colina junto ao mar, na entrada de um estuário que se assemelha a uma estreita baía, repleta de manguezais. Em seu litoral, a praia revela uma estranha areia enegrecida.

Published in: on 11 de janeiro de 2019 at 1:43  Deixe um comentário