Quando encaminhei a primeira versão de O Império do Sol à editora GSA, o texto, obviamente, era todo construído em torno do mundo ficcional da Terra de Santa Cruz. Seguindo a estrutura de O Desafio dos Bandeirantes, os capítulos de ambientação eram introduzidos por trechos das cartas do padre Bernardo Paes Freire. Hoje, certamente faria algumas mudanças, mas reproduzo-os aqui tal qual os escrevi em meados dos anos 90, com as indicações dos capítulos correspondentes.
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
“Após uma longa e cansativa viagem à bordo do navio Aurora e das experiências que se seguiram, só agora encontro tempo para escrever a V. Excia, no ano da graça de Nosso Senhor de 1651 que agora se inicia, relatando a minha visita ao Vice-Reino de Nova Castela. Confesso, com a mente ainda confusa, que é ainda com certa dificuldade que consigo organizar em palavras tudo o que presenciei e tudo o que me foi contado.
Mal consigo recordar-me do que escrevi em minha última carta a respeito de minha atribulada passagem por Santa Fé e minha estranha viagem até Porto Monte. Parece que dez anos me separam destes fatos.
Meu primeiro contato com o magnífico Vice-Reino de Nova Castela foi quando o Aurora aportou no porto de Arica, uma agradável vila cercada por um deserto árido e vazio. O navio ficou aportado por apenas um dia, mas este breve contato já foi suficiente para me transmitir uma certa melancolia.
Seguindo firme em direção a Alcazar, avistamos o que os marinheiros chamaram de Ninho de Deus. É uma ilha rochosa e gigantesca. Apesar de estarmos distante de sua costa, segundo afirmou o capitão Gutierrez, pude avistar por dias o seu ponto mais alto. A sua imagem me perseguiu pelo resto da travessia.
Dias mais tarde, por obra e graça do Senhor Nosso Deus, chegamos ao porto de Callao, portão de entrada da imponente cidade de Alcazar, antiga Cidade dos Reis. Mesmo no Velho Mundo, raras vezes vislumbrei cidade tão portentosa. Sua arquitetura e sua riqueza em nada deixa a dever às cidades de Castela que tive a oportunidade de conhecer.
Fui recebido pelo padre Diego Hurtado de La Molina, da Companhia de Jesus, com quem havia tratado diretamente por carta à respeito de minha viagem. Ele foi um dedicado cicerone nos dias em que permaneci na cidade.
De início, não vi muitas diferenças das outras colônias, exceto pelo porte da cidade. A quantidade de negros e mulatos nas ruas não ficava devendo ao que vi em Vila de São Sebastião, nem mesmo o tratamento dispensado a eles.
Fiquei, contudo, bastante impressionado com a vida da nobreza e a erudição dos membros da Audiência, fato até então inédito nas minhas andanças por Santa Cruz. Tive a feliz oportunidade de conhecer o Arcebispo Dom Gaspar de Toledo, da Ordem de Santo Agostinho, de quem já havia ouvido falar. Nada do que me foi dito foi exagerado. Dom Gaspar é um homem sereno, cordial, que irradia bondade e no qual a presença Divina é quase palpável. Atrevo-me a afirmar que o homem possui algo de santo, e não sou o único a fazer tal comentário.
Porém, a pessoa que realmente mudou o sentido de minha viagem à Nova Castela foi um abade franciscano da cidade de Trujillo, Tito, uma estranha e enigmática figura, mas de contagiante simpatia. Durante uma visita às ruínas de Pachacámac, cerca de 30 km ao sul de Alcazar, Tito me contou mais detalhadamente sobre o povo que foi um dia capaz de construir as maravilhas que meus olhos não acreditavam ver. Voltei a Acalzar com suas palavras ecoando em minha mente.”
Cidades Coloniais
“(…) Lembro-me de ter passado dois dias em companhia de Dom Juan de León, um gentil e rico comerciante que se encontrava com a missão de angariar fundos para a continuação das obras da muralha. Acompanhei-o em peregrinação pelas terras que seriam atravessadas pela portentosa construção. A Audiência assumiu publicamente o compromisso de indenizar os proprietários destas terras, mas o medo de uma nova invasão por piratas era tanto que apenas um fazendeiro havia, até aquele momento, exigido a sua parte. E foi devidamente pago.
Imagino o terror que os habitantes de Callao devem ter sofrido ano passado nas mãos daqueles aventureiros. Por quanto tempo será que Santa Cruz irá sofrer nas mãos dessa escória dos mares?”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
Política do Vice-Reino
“(…) Pouco posso acrescentar ou contribuir sobre a política local. É, com certeza, muito semelhante a da nossa Metrópole. E, sobre esse assunto, V. Excia. conhece mais do que este humilde pregador. De fato, ao adentrar na Audiência, não senti qualquer estranhamento. Talvez seja essa a grande diferença. Em nossas colônias, ou mesmo em outras vilas como Santa Fé, me senti como um estranho, como um intruso. Em Alcazar, mesmo os índios nas ruas me pareciam familiares. Pareceu-me que havia retornado prematuramente ao Velho Mundo.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
História de Nova Castela
“(…) O dia havia amanhecido chuvoso, mas só quando me encontrei com o abade Tito na Alameda dos Descalços é que descobri o quanto aquele dia era incomum na costa de Nova-Castela. A chuva era fina e caía vagarosamente, e não foi mais além disso.
Seguimos, sem perder muito tempo, para a casa de Guaman Cortez, um historiador mestiço a quem Tito havia me prometido apresentar. A própria idéia de discutir os cursos da nossa história e o destino dos povos ibéricos em Santa Cruz já me despertava enorme curiosidade. Até poucos momentos antes de adentrar no simples solar de Cortez desconfiava do que me havia dito Tito, também um mestiço: ‘apenas Cortez poderá contar-lhe a verdadeira história desta terra’.
Cortez era um homem calmo, bem vestido e de gestos e gosto refinados. Uma pessoa distraída muito bem poderia tomá-lo como um autêntico castellano. Seu gosto por literatura e filosofia era algo contagiante e em pouco tempo me vi envolvido numa agradável conversa. Comecei a acreditar nas palavras de Tito.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei
A Colônia
“(…) Apesar da enorme riqueza proveniente das entranhas desta terra abençoada e pela grandiosidade de sua capital, não deixo de sentir um gosto de miséria e tristeza. Cortez me falou sobre os índios, antigos mestres agrícolas, enterrados em túneis nas montanhas. Nem mesmo as ordens do Conselho das Índias parece conter a cobiça de seus algozes.
Em Alcazar, descobri que não só os índios se encontram abandonados pelas leis dos homens. Caminha distraído pelas belas ruas da cidade até me ver perdido em um labirinto de pequenas ruas que, mais tarde descobri, o povo chama de callejones. Já não fazia a menor idéia de onde me encontrava, e a paisagem também há muito havia mudado. Ao invés dos balcões floridos, janelas escuras com panos rotos dependurados. Em lugar das faces joviais das moçoilas criollas, rostos sombrios e enrugados.
Mesmo as ruas eram estreitas, onde eu tinha que disputar espaço com cães sarnentos e dejetos humanos diluídos em um filete de água mal cheirosa e acinzentada. A única coisa que se mantinha inalterado eram os risos e o vozerio animado e relaxado que vinham doa vãos escuros dos sobrados e das filas nas piletas d’água. Um crucifixo pendende sobre uma porta era a prova de que a fé em Deus, pelo menos naquele canto esquecido do mundo, não se deixa abalar pela descrença nos homens.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
Sociedade Colonial
“(…) Dois dias depois do meu encontro com Cortez, passei algumas horas em companhia do Bispo de Lima, Dom Martinez de La Torre. A sua arrogância e descaso com os índios me deixou horrorizado. Minha indignação só foi contida graças a comovente dedicação com que se dedicava às coisas de Nosso Senhor. Mesmo assim, faço questão de transcrever aqui algumas frases proferidas por Dom Martinez e que ainda retenho em minha memória: ‘O índio estava acostumado ao castigo que lhe infligiam seus chefes indígenas, à vida indigna e brutal. Veio logo o senhor misericordioso que é Sua Majestade e os tratou com bondade. Acomodados, se deixaram perder. Tornaram-se vagabundos e se deram às bebedeiras. Levando esta vida infeliz, estão morrendo. Isso é o que conseguiu Sua Majestade somente por governá-los como a nós’.
Essa é uma visão compartilhada pela maioria. O governo castelhano fecha os olhos de cobiça, encontrando várias desculpas para a diminuição dos índios na colônia. ‘Não há mortandade, a culpa é da cachaça’; ‘foram os mestiços que aumentaram’; ‘eles não morrem, fogem para não pagar o tributo’. Desculpas que tentam acobertar verdadeiros atos de crueldade, como os que temos combatido com relativo sucesso nas colônias lusitanas.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
A Igreja
“(…) Curiosamente, abro um livro com o qual Guaman Cortez havia me presenteado e encontro um texto escrito pelo meu amigo abade. Transcrevo aqui um trecho que resume melhor as suas ideias sobre o papel da Igreja em Santa Cruz do que qualquer coisa que eu seria capaz de dizer.
‘O povo vive sem casa, sem domicílio e quase errante. Desafio os senhores dos Cabildos e os mestres das Audiências a apontar outros meios capazes de conservar estes quase miseráveis subordinados às leis e ao governo que não seja a religião, conservada no fundo de seus corações pela predicação e conselho dos ministros da Igreja. São eles os verdadeiros custódios das leis, dedicando o seu tempo e a sua vida nos púlpitos e nos confessionários não por ambição, mas pela fé. Eles são, também, os que devem ter, e têm, maior influência sobre o coração do povo e os que mais trabalham em mantê-lo obediente e submisso à soberania de Vossa Majestade’.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
História do Império do Sol
“(…) De acordo com Cortez, apesar de possuírem uma agricultura altamente desenvolvida, as tribos serranas permaneciam em guerra constante. O objetivo era a obtenção de novos campos de cultivo e controle da água, pois necessitavam satisfazer uma população cada vez mais crescente. Volta e meia um grupo se sobressaía, mas todos tinham tradições e armas semelhantes. O desequilíbrio surgiu quando os illimanis derrotaram os vizinhos chancas, um século antes da chegada dos castellanos nestas terras.
O domínio dos illimanis era, no início, mais administrativo, mas acabou se intensificando no culto ao sol. Os tributos eram em troca de boas colheitas, providas pela boa vontade dos deuses. Império do Sol foi o nome dado por nós, mas os illimanis chamavam o seu império de Tahuantinsuyo (Quatro Regiões Unidas, se estou bem lembrado).
A origem dos illimanis é tão envolta em mitos e lendas que é difícil precisar qual que mais se aproxima da verdade. Muitos padres e intelectuais castellanos tentaram em vão traçar uma linha histórica segura. E nem eu pretendo apontar alguma. Quanto mais ao passado se caminha, mais fantástica e pouco provável a história se torna.
Mais seguros são os relatos a partir de Inca Yupanqui, ou Pachacuti, como muitos o chamam. Pelo que posso perceber, as narrativas são mais sólidas e há menos contradições entre as diferentes versões. Isso ocorre porque a nobreza é formada por linhagens que se rivalizam, como Huáscar e Atahuallpa. Assim, cada um tenta passar sua visão da história, e, é claro, aumentar a sua importância nos acontecimentos narrados, sem perder a chance de difamar os desafetos.
Obviamente, todos estes relatos fizeram crescer dentro de mim uma avassaladora curiosidade em conhecer a antiga capital do Tahuantinsuyo.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
O Culto ao Sol
“(…) Sempre ouvi que os incas eram um povo alegre, altivo, esperto e afetivo, uma civilização que nada deixava a dever às do Velho Mundo. Mesmo a sua insistência na crença de um Deus Sol parecia estar de todo convertida à verdade cristã.
Sem dúvida, é um orgulho para a Igreja ter uma raça tão formidável no caminho da verdadeira fé, vivendo de acordo com as leis de Deus. Em muitos destes índios, a pureza da fé é comovente. Porém, não foi alegria e nem altivez o que encontrei ao ser recebido pelo padre Domingo numa redução nos arredores de Junín.
Encontrei um povo triste, melancólico e desconfiado. Fiquei horrorizado com o que o padre Domingo me contou sobre a vida dessa gente nas minas, sobre as milhares de almas sepultadas em nome da cobiça do homem branco pelo vil metal.
Não pude conter as lágrimas quando o curaca Huallpa, o líder daquela comunidade, me descreveu a aflição de uma jovem inca que acabara de dar a luz. Desesperada, sem esperança na justiça dos homens, depois de ter o marido, o pai e os irmãos mortos nas minas, matou o filho com as próprias mãos para salvá-lo deste mundo cruel.
Não me foi possível condenar esta mulher, cuja alma já se encontrava destroçada pela amargura. É preciso juntar os seus pedaços, restituir-lhe a fé, perdoar o seu grande pecado para que ela e os seus irmãos vejam em Deus e em Sua palavra a saída para um mundo mais justo.
Desde então, rogo a Deus todas as noites para que ilumine os governantes desta colônia tão rica em vida e beleza. De que adianta trazermos a palavra de Deus se, junto, trazemos a destruição.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
Geografia
“(…) A paisagem das cordilheiras e seus picos nevados há muito me deslumbrava, mas com certeza não era isso que fazia apertar o meu peito e faltar-me o ar. Nem mesmo meus conhecimentos de medicina e minhas orações pareciam fazer efeito. Comecei a sentir uma palpitação nas têmporas e cãibras. O guia mestiço disse, então, que eu sofria o soroche, o mal de altura.
Foi com Miguel, o guia, que eu pude ver o quanto temos a aprender com estes índios. O seu conhecimento das ervas e plantas medicinais podem ser uma preciosa contribuição para o desenvolvimento da medicina. Miguel rapidamente tirou umas ervas de uma pequena bolsa de lã e preparou um chá, que me deu para tomar. Àquela altura, sentia dolorosas pulsações no coração e tomaria até chá de urtiga, se me dissessem que resolveria o problema. O chá, na verdade, era feito de uma tal folha de coca, uma planta local. Em pouco tempo, senti minha cabeça parando de tremer e os meus pensamentos se ordenando. Pelo resto da viagem, me senti muito bem disposto.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
Os Illimanis
“(…) A chegada em Cusco foi um grande impacto para mim. Senti uma enorme tristeza em não ter podido vislumbrar a cidade em todo o seu esplendor, como os illimanis a haviam construído. Confesso, com uma ponta de vergonha, que também senti raiva por agora ver uma típica cidade colonial pousada sobre o que antes foi a capital de um grande Império.
Após minha estadia em Cusco, soube que a cidade foi atingida por um terremoto. O fabuloso templo de La Compañia, que tive a oportunidade de conhecer, parece ter sido destruído. Graças a Deus, ainda não tive a oportunidade de sentir a ira da terra, que parece ser bem comum por aqui.
(…) Foi durante a minha visita à ciclópica fortaleza de Sacsayhuamán, a poucos quilômetros de Cusco, que me ocorreu um fato insólito. Ainda hoje penso se não teria sido um sonho. Se o vento frio e o sol não teriam me embalado sobre as gigantescas pedras daquelas muralhas.
Sonho ou não, se aproximou de mim o que me pareceu ser um humilde camponês illimani. Porém, possuia uma postura nobre e era muito bem articulado ao falar, apesar das dificuldades com o idioma castellano. Seu nome era Quito, e foi a única coisa que me disse a seu respeito.
Não sei porque, acabei contando-lhe tudo sobre a minha pessoa e o que fazia em Cusco. Então, como que me aprofundando em um sonho de primavera, Quito começou a me contar diversas histórias illimanis, sobre como era a vida na época do Império, seus imperadores, as guerras, o culto ao sol.
Parecia que eu havia entrado em um transe, pois, quando me dei conta, ele havia ido embora e eu me encontrava sozinho sobre a muralha. Os restos de grama amassada sobre a minha batina e a sonolência que abatia minhas pestanas me fazem crer que havia dormido. Por outro lado, embora seu rosto me seja vago, conseguiria reconhecer sua voz em uma multidão.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
A Terra De Santa Cruz
“(…)Acabo de me surpreender olhando para o canto da mesa onde repousam escritos sobre as primeiras expedições castellanas. Imagino como seria a vida destes povos se a expedição castellana não tivesse aportado na Península de Perlezuela em 1492. Será que se matariam uns aos outros? Será que os illimanis conseguiram conquistar as outras tribos, como os maoáris, os jaguaris e os araucos, e levar para todos os povos de Santa Cruz, ou como lá eles chamassem esta terra, os benefícios de sua cultura? Será que eles encontrariam sozinhos o caminho que leva ao Nosso Senhor Deus?
Incrível como uma mínima embarcação de pescadores, procurando em vão o seu porto de origem na Galícia, possa ter mudado o destino de nações. Não só de Santa Cruz como também do Velho Mundo. De 1489 para cá, o quanto nós também não mudamos? Apesar de já termos desbravado o oriente e o continente negro, ainda acreditávamos na existência de um povo mais desenvolvido, em lendas trazidas nas escrituras. Mas apenas encontramos mais almas a serem salvas. Seremos fortes, seremos em número suficiente para levar a palavra de Deus e a luz a todos os cantos deste mundo que, pelo visto, não cessa em crescer?”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei.
Cidades e Construções
“(…) Encontro-me agora em Trujillo, desfrutando da hospitalidade e atenção do abade Tito. Não tivesse passado por tudo o que passei, olhando pela janela de meu quarto seria capaz de acreditar estar em Toledo, León ou outra bela cidade castelhana. Ao dirigir-me para cá, pretendia reintegrar-me à gentil tripulação do Aurora e seguir rumo ao norte.
Contudo, um simpático e jovem nobre de Castela, a quem tive a oportunidade de ajudar com meus conhecimentos de medicina, convidou-me para ir ao sul, na terra dos araucos. A alegria com que me fala da beleza de suas fazendas e o clima inigualável da região me deixou assaz curioso.
Confesso estar indeciso, pois as duas opções me parecem mui agradáveis, e inteiramente de acordo com meus objetivos de relatar o trabalho da Igreja e as diferentes culturas do Novo Mundo.
Despeço-me, rogando pelas graças do Senhor para todos os nossos irmãos e fiéis, e certo de que, seja qual for a minha decisão, Deus estará ao meu lado.
Seu humilde servo, Bernardo Paes Freire.”
Extraído das cartas do padre Bernardo Paes Freire a D. Gaspar de Bragança y Andrade, Arcebispo de El Rei..