Colônia do Sacramento Histórica

Este mini suplemento de Colônia do Sacramento é dividido em três partes:

  • Uma pesquisa histórica resumida da Colônia do Sacramento e seus arredores, abrangendo seus primeiros 100 anos de existência.
  • A ambientação de Colônia do Sacramento que utilizei para minha aventura.
  • Uma aventura em Colônia do Sacramento.

Neste resumo histórico sobre Colônia do Sacramento, primeiro estão listadas breves cronologias da cidade e das cidades mais próximas, tanto do lado português quanto do lado espanhol.

Em seguida, uma descrição mais pormenorizada da vida e da organização da cidade até cair definitivamente em domínio espanhol. Os períodos abordados dizem respeito àqueles em que a cidade ficou sob o domínio dos portugueses. Incluindo também a escravidão negra e a questão indígena na região.

Com estes dados, o mestre do jogo terá subsídios para criar interessantes aventuras na região.

CRONOLOGIA

Colônia do Sacramento

Fundada em 1680 pelos portugueses. Tomada no mesmo ano pelos espanhóis.

1683 – retomada dos portugueses, sem poder ampliar os limites da cidade.

1704 – espanhóis tentam recuperar a cidade.

1705 – espanhóis tomam a cidade (contexto da Guerra da Sucessão da Espanha – Ingleses contra espanhóis).

1715 – retomada dos portugueses pelo 2º Tratado de Utrecht, com o acordo do tiro de canhão.

1735 a 1737 – cerco espanhol à Colônia. Após acordo de paz, Portugal funda Rio Grande.

1761 – a tropa espanhola cria um assentamento no final da praia que se estende ao norte da cidade, batizando o assentamento de Real de San Carlos.

1762 – invasão espanhola por alguns meses.

1777 – passagem definitiva de domínio aos espanhóis.

Observação: o gado no Uruguai foi introduzido, por Buenos Aires, já no início do século XVII.

CIDADES ESPANHOLAS

Porto de Santa María del Buen Ayre

Fundada definitiva em 1580 a partir de um assentamento de 1536, conhecido como Nuestra Señora del Buen Ayre. Governo da região submetido ao Vice-Reino de Nova Castela. Como a cidade só recebia dois navios da metrópole por ano, passou a dedicar-se ao contrabando com os portugueses. Passou a ganhar importância militar a partir da fundação de Colônia de Sacramento. O governador José de Garro chegou a reunir 3 mil homens de toda a região para atacar Sacramento, tendo a ajuda de índios Guaranis (Maoáris, no jogo).

Escoamento seguro da prata de Potosí para o Atlântico. Crescimento do gado e da produção de charque.

No século XVIII passou a investir em escravos africanos trazidos por navios britânicos. Na mesma época, floresceu a indústria do couro. Virou Vice-Reino do Rio da Prata em 1776.

Apenas 50 km de rio separam a cidade de Sacramento.

Outras cidades fundadas no atual território argentino no século XVI foram Santiago del Estero (1553) e Córdoba (1573), muito distantes do rio da Prata, mais próximas da região andina.

Bem mais ao norte, duas cidades foram fundadas: Concepción de Buena Esperanza (1585), no início do Gran Chaco, e Ciudad de Vera de las Siete Corrientes (1588), no rio Paraná, quase na confluência do rio Paraguai. Em 1632, os moradores de Concepcíon abandonaram a cidade e migraram para Corrientes. Uma nova tentativa de erguer uma cidade no Chaco só ocorreu (com sucesso) no século XIX. Neste meio tempo, a região só foi ocupada por missões jesuíticas e franciscanas.

Montevideo

1723 – fundada por portugueses.

1726 – tomada pelos espanhóis com ocupação do interior.

Do lado oriental do Prata, é a cidade mais próxima de Sacramento, a 177 km.

San Carlos

Fundada em 1762 no atual departamento de Maldonado, a 15 km da costa, subindo o arroio Maldonado, com o objetivo de conter o avanço dos portugueses sobre a região.

Fortaleza de Santa Tereza

Erguida em 1762 no atual departamento de Rocha, ao norte de Cisplatina, antes de chegar ao arroio do Chuí, próximo à Laguna Negra.

CIDADES PORTUGUESAS

Cidades portuguesas mais próximas, em ordem de fundação, de onde podem partir expedições, barcos ou mesmo caravanas até Colônia do Sacramento. Coincidência ou não, as datas de fundação das vilas do litoral seguem a mesma ordem das cidades litoral abaixo.

Vila Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá

1550 – ocupação da Ilha de Cotinga devido ao ouro.

1570 – chegada dos pioneiros e ocupação de Paranaguá, conquistada dos Carijós.

Missões Jesuíticas

Os Jesuítas ocuparam a região das Missões nos anos 1630. O gado do sul foi trazido pelos Jesuítas em 1680. Mas já havia incursões de bandeirantes e apresamento de índios até o Uruguai. Ficam no interior, próximas ao rio Uruguai

São Francisco do Sul

Fundada em 1640. Possível ocupação anterior por franceses. Fica numa grande ilha colada ao continente, sendo a cidade construída no abrigo da baía da Babitonga, que separa a ilha da atual Joinville.

Nossa Senhora do Desterro

Fundada em 1675 por paulistas na Ilha de Santa Catarina. Assim como em São Francisco do Sul, a vila foi erguida na face da ilha voltada para o continente.

Desde o século XVI a ilha já era uma importante parada para as embarcações reporem água e víveres em seu caminho rumo ao rio da Prata.

No século XVIII foram construídas 3 fortalezas pra proteger a entrada da baía norte: uma ao norte da ilha e as outras em duas ilhotas na entrada da baía. E também um forte junto à vila, no estreito que separa a baía norte da baía sul.

Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba

Povoado surgido em 1667, virou vila em 1693. Importante entreposto comercial do planalto, separada de Paranaguá por uma serra íngreme. Atual Curitiba.

Santo Antônio dos Anjos de Laguna

Fundada em 1684 pelos portugueses na costa da atual Santa Catarina. Apesar de se compor de um grupamento de casas de pau-a-pique cobertas de palha, onde os casamentos e batizados somente se realizavam quando o padre a visitava, conseguiu o foral de vila em 1714, quando não contava com mais de 42 casas e 300 pessoas adultas.

Viamão

Viamão é onde se instalou o açoriano Cosme da Silveira em 1725, servindo de entreposto entre Laguna e Colônia de Sacramento. Com a chegada de 500 casais vindo dos Açores para povoar a região, o Porto de Viamão vira Porto dos Casais (atual Porto Alegre) e rapidamente ganha o protagonismo na região.

Rio Grande de São Pedro

Fundada pelos portugueses em 1737, na barra da Lagoa dos Patos, mas os açorianos já circulavam pela região, trazendo gado das Missões, desde 1720.

A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

O rei obrigou um grupo de ricos judeus a fundarem a Companhia Geral do Comércio do Brasil, assumindo a administração do transporte de cargas e pessoas entre o Brasil e Portugal, uma operação que durou até 1720.

A história das câmaras municipais no Brasil começa em 1532, quando São Vicente é elevada à categoria de vila.

A administração municipal era toda concentrada nas câmaras municipais, que naturalmente exerciam um número bem maior de funções do que atualmente, concentrando os poderes executivo, legislativo e judiciário. Todos os municípios deveriam ter um Presidente, três vereadores, um procurador, dois almotacéis, um escrivão, um juiz de fora vitalício e dois juízes comuns, eleitos juntamente com os vereadores. Eram as responsáveis pela coleta de impostos, regular o exercício de profissões e ofícios, regular o comércio, cuidar da preservação do patrimônio público, criar e gerenciar prisões, etc.

Almotacé: é o funcionário de confiança dos conselhos na Idade Média (equivalente a um oficial municipal) responsável pela fiscalização de pesos e medidas e da taxação dos preços dos alimentos; sendo encarregado também da regulação da distribuição dos mesmos em tempos de maior escassez.

Mapa de Colonia pintado

A COLÔNIA DO SACRAMENTO

O contrabando executado pela Bacia do Prata era alternativa para a entrada de mercadorias europeias e os altos preços da rota oficial via Panamá.

Ascensão social era obtida por acúmulo de riqueza ou por casamento. Fora isso, só por serviços prestados ao Rei. Nobreza administrativa.

De São Sebastião do Rio de Janeiro à Colônia do Sacramento: 10 a 15 dias de navegação.

Os períodos considerados a seguir dizem respeito à dominação lusitana na cidade.

1683 a 1705 – reinserção do rio da Prata entre as rotas comerciais que se ligavam com o Rio de Janeiro. Estabelecimento de defesas militares. Acesso à prata de Potosí e ao couro bovino produzido na região.

Falta de uma administração civil, fator responsável pelo aumento excessivo do poder dos militares, o governo da Colônia do Sacramento era dominado pelo militar que tinha a maior patente.

Política de povoamento a partir de 1689. Casais brancos e índios, mulheres solteiras e oficiais militares.

Entre 1691 e 1692, a população cresce de 600 a 1000 habitantes.

A situação melhorou sensivelmente sob as administrações dos governadores Francisco Naper de Lencastre (1689-1699) e de seu sucessor, Sebastião da Veiga Cabral (1699-1705), com o incremento da política de povoamento e a intensa exploração das riquezas pecuárias do atual território uruguaio. Porém, a Guerra da Sucessão Espanhola colocaria Portugal e Espanha em campos opostos na Europa, resultando no desencadeamento das hostilidades no Prata e no abandono de Colônia às forças de Buenos Aires em 1705.

Pós 1715 – utilização da campanha para fins produtivos. Grande expansão econômica com a produção de gado e agrícola da região. Envio de 60 casais portugueses.

A retomada do contrabando garantiu a remessa de grandes quantidades de prata, ao passo que a exploração do gado selvagem trouxe como consequência a luta com os espanhóis e indígenas pelo domínio do território, marcando a fase mais próspera e dinâmica da história da Colônia do Sacramento.

A carta régia de 1719 regulamentou a maneira pela qual o governador deveria proceder à distribuição das sesmarias aos casais. Como persistia a controvérsia com as autoridades de Buenos Aires sobre a questão da extensão do território de Colônia, o governador Manuel Gomes Barbosa julgou melhor não conceder títulos de propriedade, limitando-se a distribuir os lotes entre soldados e colonos, como era antes de 1705.

A distribuição de terras corria à conveniência do governador, embora isso fosse ilegal. Era acusado de beneficiar os militares com terras mais próximas da fortaleza.

Em 1718, viviam em Colônia e em seus arredores mais 1.040 habitantes.

Em 1719, o espaço situado entre o rio e a muralha, em construção, já se encontrava totalmente ocupado pelas casas dos oficiais e soldados casados. Segundo o governador, erguiam-se no recinto interno da praça cinquenta e uma casas de pedra e barro e dezesseis ou dezessete feitas de couro, onde viviam os soldados casados pobres. Por falta de espaço, os casais receberam o terreno para a construção das suas casas fora do recinto fortificado.

Em 1722, no ano da posse do governador Antônio Pedro de Vasconcelos, foram relacionados em Sacramento e nas suas proximidades 630 homens, 172 mulheres, 99 meninas, 123 meninos, 45 índios, 16 índias, 204 escravos e 90 escravas. O Terço de infantaria estava constituído de 267 homens, enquanto havia 129 inscritos na cavalaria e artilharia. Eram quatro as companhias de ordenança: a companhia de cavalaria dos moços solteiros, composta de 37 homens; a companhia dos mercadores, composta por 24 homens. Os casais estavam divididos em duas companhias: uma com o efetivo de 29 homens; enquanto a outra congregava 35 homens.

Em 1726, já não deveriam subsistir as moradias feitas com couros, fruto da precariedade de recursos durante os primeiros anos do restabelecimento de Colônia, pois, nesse ano, Vasconcelos informou ao rei que já se haviam “feito tantas casas dentro da praça que já não há chão que esteja desocupado”.

Em 1730, o governador relacionava a existência de 329 habitações, sendo que era rara a casa que não estivesse coberta de telhas e que deixasse de ter suficientes alfaias.

Em 1735, o povoado era formado por 327 casas, térreas na sua maioria, distribuídas ao longo de dezoito ruas, dezesseis travessas e quatro praças. A população foi calculada em cerca de 2.600 pessoas, entre as quais estavam incluídos os efetivos da guarnição. No interior da fortaleza, situavam-se a igreja paroquial, a casa do governador, o hospital real, a residência dos franciscanos, a casa da artilharia, os quartéis e o corpo da guarda principal.

Colônia não possuía uma câmara, onde os comerciantes pudessem se fazer representar, sendo todo o governo da povoação dominado pelos militares, que não deixavam de utilizar meios violentos para conseguir seus intentos.

A pressão do governador sobre os comerciantes tinha antes o objetivo de levantar fundos para pagar as despesas da guarnição do que tirar algum proveito próprio. Em 1727, Vasconcelos foi severamente repreendido por ter forçado os comerciantes a lhe darem dinheiro para a compra de um grande número de cavalos e gado em troca de letras de câmbio que não eram aceitas no Rio de Janeiro. A questão era efetivamente delicada, pois detentores de importantes cargos militares na Colônia do Sacramento também se dedicavam ao comércio

Tentativas no sentido de elevar o estatuto da Colônia do Sacramento a vila não deixaram de ser feitas, porém sempre contaram com a oposição dos governadores. A maior parte do comércio realizado em Sacramento não passava de contrabando aos olhos das autoridades espanholas.

O importante papel militar desempenhado pela Colônia do Sacramento deu origem a um problema específico: a falta de uma administração civil, fator responsável pelo aumento excessivo do poder dos militares. Pelo fato de não haver juiz nem Câmara em Sacramento, a autoridade civil e a militar ficavam concentradas nas mãos do governador, que julgava os conflitos entre os moradores. Geralmente a pena imposta pelas infrações à lei limitava-se ao pagamento de uma multa. O taberneiro Ambrósio foi obrigado a pagar em dobro o valor das mercadorias que haviam sido furtadas da alfândega e que foram encontradas em sua casa. Timóteo Soares teve de pagar uma multa de cinquenta mil réis por ter demolido a casa que Manuel Lopes Fernandes possuía fora da praça. A prisão de Antônio Fernandes foi comutada numa multa orçada em quinze carregamentos de pedra para as obras reais.

Cerco 1735-1737 – Espanha cerca e abafa totalmente a Colônia, que resiste bravamente.

Mapa 1731

Mapa da cidade em 1731, com uma fortaleza interna e duas saídas, uma norte e outra ao sul. A seta indica a direção Norte.

Pós 1737 – posto comercial com estrutura militar, sem entorno agrícola. Necessita de mercadorias vindas do Rio de Janeiro ou do comércio com os espanhóis.

Buenos Aires não era só um ponto intermediário da prata de Potosí, mas também um grande mercado consumidor.

Portugal dominava as ilhas São Gabriel, Martin García e Las Hermanas, o que facilitava seu acesso aos canais e enseadas espanholas.

Contrabando oficial: declarar a entrada de uma quantidade menor do que realmente entrava; ou passagem de mercadorias em remessas de correspondência.

Contrabando local: transações em pequena escala feita entre as pessoas da região, produtos locais.

O contrabando era uma forma de ascensão social e econômica.

Produtos do Brasil: açúcar, tabaco, aguardente, arroz, chocolate.

Produtos da Europa: tecidos de algodão ou linho; confecções, elementos de metal.

Produtos locais: couro, trigo, farinha, queijo, galinha, prata.

O comércio de escravos cresce no interior da América espanhola a partir de 1740 por contrabandistas espanhóis via Buenos Aires. Os escravos regulares custavam 300 pesos. Os via Colônia, 180 a 200.

As taxas e a burocracia eram muito caras. Colônia se apresentava como uma boa opção para passar as mercadorias a Buenos Aires e interior sem arcar com as taxas espanholas.

O padre Florián Paucke, durante sua visita a Colônia, realizada em dezembro de 1749 descreveu-a como uma pequena cidade constituída de casas baixas, feitas de pedra. Na praça, destacou a presença da igreja paroquial, da guarda principal e da residência do governador. Sobre as fortificações, observou que, por terra, Colônia estava protegida por uma alta muralha, ocupada por peças de artilharia de ferro, e por um profundo fosso seco aberto na rocha. Defendendo o porto, notou a existência de um alto bastião, armado com seis canhões de ferro. O gado era recolhido à praça durante a noite, para evitar que fosse apresado pelos espanhóis.

1762 – tomada espanhola e restituição a Portugal.

Pós 1762 – Além do cerco comercial, cerco militar. Bloqueio em Campo Real de San Carlos. Mas o bloqueio não consegue parar o contrabando, realizado nos pequenos rios, entre embarcações portuguesas e estancieiros vizinhos. Governador Pedro José Soares de Figueiredo Sarmento.

Cargos: almoxarifes da Fazenda Real; escrivão da Fazenda Real; escrivão dos Armazéns dos mantimentos de Sua Majestade; Juiz da Alfândega; Sargento Mor da Praça.

Mapa 1753

Mapa da cidade em 1731, com uma fortaleza interna e duas saídas, uma norte e outra ao sul. A seta indica a direção Norte.

Familiares do Santo Ofício

Eram funcionários inquisitoriais leigos, ou seja, não necessitavam pertencer ao quadro eclesiástico para fazerem parte do aparato da Inquisição. Tinham como responsabilidade encaminhar denúncias de heresias e realizar prisões sob ordens do Tribunal de Lisboa – responsável pelo controle religioso nos domínios lusitanos na América – sendo uma via de contato direto daquele tribunal com a sociedade local. Os Familiares eram parte de um corpo de funcionários da Inquisição que supriam a ausência de um tribunal atuante na América Portuguesa.

Os Familiares estavam completamente inseridos na comunidade colonial, tinham ampla circulação no meio em que viviam e eram reconhecidos pelos moradores da região como ocupantes do referido cargo inquisitorial. Ou seja, era notória a presença destes agentes na sociedade.

Escravos Negros

Os portugueses traziam escravos pra Colônia e tentavam vender aos espanhóis. O demanda de Buenos Aires acabava diminuído a quantidade de negros em Colônia. Usados como artesãos, capatazes, cocheiros e vários serviços domésticos.

Em 1730, em Buenos Aires, os negros faziam os serviços domésticos, trabalhavam nos campos e em outras atividades. Não houvesse tantos escravos, não se poderia viver nas cidades da região platina, pois, por mais pobres que fossem, os espanhóis negavam-se a trabalhar, enquanto que raros eram os índios que se sujeitavam à encomienda ou ao trabalho remunerado.

Os negros sofriam com as incursões de espanhóis e charruas ao tentar extração de couro do gado selvagem.

Os escravos condenados ao degredo em Colônia passavam para a propriedade do Estado, como aconteceu a um alfaiate negro chamado Sebastião, o qual foi alugado pelo governador ao mestre João Ribeiro e o valor do aluguel contabilizado entre as receitas da Fazenda Real na Colônia do Sacramento.

Em 1722, a população escrava de Colônia era de 204 homens e 90 mulheres; em 1726, atingia o número total de 387; que, em 1730, subiu para 687. O aumento do número de escravos no decorrer dos anos relacionava-se com o constante desenvolvimento agrícola, pecuário e comercial da Colônia do Sacramento.

Durante o sítio de 1735-1737, os escravos foram armados e chamados para auxiliar seus senhores a defender a povoação. Foi o caso dos cativos do escrivão da Fazenda Real em Colônia, Caetano do Couto Veloso que, com seu filho e dez escravos de sua propriedade, apresentaram-se ao governador para ajudar a reconstruir a muralha. Os trabalhos estenderam-se por seis meses, durante os quais Couto Veloso ainda recebeu a incumbência de defender o baluarte da bandeira com seus escravos armados de espingardas e chuços. Mais tarde, o mesmo foi transferido para o porto, onde continuou o serviço com “os seus dez escravos que a todas as funções o acompanhavam, fazendo rondas e sentinelas por toda aquela parte”.

Os espanhóis procuraram tirar vantagem da presença dos escravos entre os defensores de Colônia, oferecendo-lhes a liberdade caso desertassem e passassem para os domínios do Rei Católico.

Os Trabalho Indígena

A mão-de-obra indígena era controlada diretamente pelo governador, uma vez que a escravização dos índios era proibida pelo rei. Requisitados aos aldeamentos da Coroa, os índios foram presença constante nas obras públicas de Colônia, principalmente na construção das fortificações. Os índios vinham do Rio de Janeiro ou São Vicente.

Em 1699, Sebastião da Veiga Cabral pediu o envio de sessenta índios do Rio de Janeiro para trabalhar na restauração das muralhas, pois considerava impossível dar início à obra só com o trabalho dos soldados que, além do serviço militar, tinham de garantir o próprio sustento. Também pesavam razões econômicas, pois os soldados não fariam o serviço por menos de um tostão diário, enquanto que aos índios se costumava dar a metade desse valor.

Em 1722, a população indígena de Colônia era composta de 45 homens e 16 mulheres. Embora não haja notícia do embarque de um grande número de indígenas da costa brasileira para a Colônia do Sacramento, tudo indica que era contínuo o envio de pequenos grupos para o pequeno estabelecimento português às margens do rio da Prata. Não era fácil encontrar os indígenas que fugiam, internando-se na campanha.

Em 1728, um destacamento de cinco soldados procurou durante vinte dias quatro índios que fugiram do serviço nas obras reais.

Charruas

Os índios Charruas ocupavam toda a costa sul do Uruguai e ambas as margens do rio Uruguai, chegando até ao outro lado do rio Paraná; e, ao norte, até o sudoeste do Rio Grande do Sul. A relação com os brancos não era nada boa.

Em 1552, próximo a onde Colônia foi erguida, os espanhóis fundaram a Vila de San Juan, completamente destruída pelos Charruas no ano seguinte. Em 1574, um pouco mais ao norte, fundaram a cidade Zarantina del San Salvador, completamente destruída três anos depois.

Em 1702, na Batalha Del Yi, os Charruas enfrentaram 2 mil guaranis sob o comando dos espanhóis (os jesuítas das missões eram aliados dos espanhóis). Saldo de 300 mortos e 500 prisioneiros conduzidos às missões. 200 charruas foram mortos à traição, degolados. Depois, nova leva com 4 mil guaranis, com final semelhante. Eram seguidas campanhas de extermínio dos charruas.

 

Published in: on 3 de maio de 2016 at 0:35  Comments (1)